71% temem ter de trabalhar na aposentadoria para garantir sustento; 78% acham que empresas deveriam oferecer previdência complementar ao INSS e 81% defendem tema como parte do currículo escolar.
10/05/2018 08h47
Um levantamento realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) feito apenas com consumidores que se preparam para a aposentadoria revela que ter dinheiro para cuidar da saúde é o que mais motiva a formação desse tipo de reserva financeira, citado por 84% dos entrevistados. De forma geral, entre os que se organizam para a terceira idade, 85% disseram assumir essa tarefa como prioridade em suas vidas.
A pesquisa ainda revela que praticamente todos (96%) os entrevistados acreditam que o brasileiro deveria se organizar para a chegada da terceira idade e, desses, mais de um terço (36%) concorda que as pessoas deveriam pensar em formas alternativas de renda para não depender exclusivamente da Previdência Social. Para outros 35%, é importante se preparar na juventude para não depender de terceiros no futuro, enquanto 20% pensam que é importante se preparar para a aposentadoria porque as pessoas precisam manter o mesmo padrão de vida da época em que trabalhavam.
Indagados se concordavam com uma série de afirmativas, 74% disseram ter o receio de passar dificuldades financeiras na aposentadoria e 71% temem ter de trabalhar mesmo com a idade avançada para garantir o próprio sustento. No geral, 87% juntam dinheiro com medo de chegarem a essa fase da vida sem o conforto desejado. “A busca por segurança é o que leva esses consumidores a agirem de forma prática e disciplinada na construção de uma reserva financeira, que servirá de amparo para momentos de dificuldades muito comuns nessa fase da vida”, explica o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.
Para 78%, empresas deveriam oferecer previdência complementar descontada em folha; para 81%, tema deveria ser discutido nas escolas
Na avaliação dos entrevistados, as empresas também deveriam assumir papel de destaque na preparação da aposentadoria dos cidadãos. Segundo a pesquisa, 78% concordam que as empresas empregadoras deveriam disponibilizar aos seus funcionários um plano de aposentadoria complementar descontado da folha de pagamento, contra apenas 21% que discordam dessa ideia. No mesmo sentido, 65% concordam que a previdência privada é o jeito mais garantido de guardar dinheiro para a aposentadoria e 90% concordam que os órgãos governamentais deveriam orientar a população sobre os melhores planos para quem planeja se aposentar. Em média, os entrevistados têm a expectativa de viver até os 85 anos de idade.
“A expectativa de vida do brasileiro tem aumentado e o país está envelhecendo cada vez mais. A pressão sobre o sistema previdenciário já é considerável e tende a aumentar nos próximos anos, o que significa que não há garantias de que o INSS seja capaz de absorver a demanda crescente por aposentadorias”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Os entrevistados também acreditam que preparar-se para a aposentadoria deveria ser tema central de conversa dentro da família e no ambiente escolar. Para 95% das pessoas consultadas, a formação de reserva para essa fase da vida deve ser tratada com os jovens, enquanto 81% acreditam que o tema deveria fazer parte do conteúdo obrigatório no currículo escolar e de universidades.
Entrevistados que guardam dinheiro para aposentadoria mostram-se divididos quanto à reforma da previdência
Sobre as mudanças nas regras da aposentadoria, os consumidores entrevistados mostram-se divididos. Enquanto 49% concordam que o caminho para a sustentabilidade do sistema de previdência no país seja a reforma da previdência, outros 51% discordam da necessidade de mudanças. No mesmo sentido, 48% disseram que preferem mudar as regras atuais da previdência a ter de pagar mais impostos para sustentar os benefícios, opinião da qual 51% não concordam.
“A reforma da previdência é um tema polêmico, mas que deve ser discutido. Quanto mais o país demorar a enfrentar a realidade do déficit do orçamento, mais difícil será cobrir o rombo que separa a despesa da arrecadação, pois enquanto a população envelhece, haverá menos pessoas ativas contribuindo para o sistema previdenciário. A mudança do perfil demográfico brasileiro e o orçamento deficitário público já influenciam a opinião pública de que o Brasil terá de fazer mudanças profundas”, afirma a economista, Marcela Kawauti.
Apesar de se planejarem, 43% admitem dificuldade para manter disciplina; 89% gostariam de usar aplicativos para gerenciar recursos da aposentadoria
Mas mesmo entre os brasileiros que possuem algum tipo de planejamento para a aposentadoria, há comportamentos que dificultam o hábito de poupar. Em cada dez pessoas que possuem uma reserva para essa finalidade, quatro (43%) concordam que não conseguem se organizar financeiramente com a disciplina necessária, mesmo sabendo de sua importância. Além disso, 46% concordam que preferem aproveitar o dia de hoje a guardar dinheiro para a aposentadoria. Assim, 52% dos entrevistados só aplicam dinheiro quando há sobras no orçamento e 48% deixam, em algumas oportunidades, de guardar a quantia destinada a aposentadoria para realizar compras.
O estudo mostra que ferramentas tecnológicas que facilitam o acesso à informação e aos cálculos podem ajudar no cumprimento das metas. Nove em cada dez (89%) entrevistados são favoráveis a utilização de aplicativos para gerenciar e otimizar de forma automática os recursos financeiros para a aposentadoria. “O fato de essas pessoas contarem com algum planejamento para a terceira idade não significa que não lidam com desafios e obstáculos. Nesse caso, mecanismos automáticos podem ajudar o consumidor a tomar decisões, otimizar suas escolhas e driblar a falta de disciplina quando se trata da formação de reserva para a aposentadoria”, explica a economista Marcela Kawauti.
Metodologia
Foram entrevistados 3.818 casos em um primeiro levantamento para identificar quem não é aposentado e possui algum tipo de preparo para a aposentadoria.
Em seguida, continuaram a responder o questionário somente 804 entrevistados que faziam algum tipo de preparo para a aposentadoria. A margem de erro é de no máximo 1,59 pontos percentuais e 3,46 p.p. para um intervalo de confiança a 95%.